Escrevivendo e Photoandarilhando por ali e por aqui

“O que a fotografia reproduz no infinito aconteceu apenas uma vez: ela repete mecanicamente o que não poderá nunca mais se repetir existencialmente”.(Roland Barthes)

«Todo o filme é uma construção irreal do real e isto tanto mais quanto mais "real" o cinema parecer. Por paradoxal que seja! Todo o filme, como toda a obra humana, tem significados vários, podendo ser objecto de várias leituras. O filme, como toda a realidade, não tem um único significado, antes vários, conforme quem o tenta compreender. Tal compreensão depende da experiência de cada um. É do concurso de várias experiências, das várias leituras (dum filme ou, mais amplamente, do real) que permite ter deles uma compreensão ou percepção, de serem (tendencialmente) tal qual são. (Victor Nogueira - excerto do Boletim do Núcleo Juvenil de Cinema de Évora, Janeiro 1973

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Ainda Saramago

Se quiserem, escrevam


Eu sei que os arquivos dos jornais, sejam digitais sejam em papel nas hemerotecas, vão durar muito mais para além da presença online deste blogue. E, no entanto, faço questão de estampar aqui esta belíssima foto de Nuno Ferreira Santos ou Rui Gaudêncio que está hoje na página 2 do Público. Podem-me dizer que é uma imagem previsível, podem dizer-me que todos nós já tivémos expressões assim à beira de urnas de entes queridos, podem dizer-me o que quisere. Acontece que olho esta foto e o meu território não é do racionalidade ou da razão, é outro território. E, se lhes lher para aí, os leitores que tiverem gosto em escrever bem podem alinhar para si próprios ou para a caixa de comentários umas linhas suscitadas por esta imagem.

P.S.: reafirmando o óbvio, os leitores terão porventura reparado que não escrevi uma linha sequer sobre uma certa ausência no funeral de Saramago e nem sequer senti um centésimo da exaltação de Louçã com o assunto: primeiro, porque, como diz certeiramente Teresa Villaverde Cabral no Público de hoje não senti a mínima falta do sujeito no Alto de S. João; e segundo, porque resolvi ser fiel à minha velha máxima de que, quando a ventania sopra espontanea e desabridamente para um lado, não adianta ajudar com um fole.
 
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terça-feira, 29 de junho de 2010

Grupo Coral de Cantares de Portel


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mafaldaramalho | 14 de Abril de 2008 | 3:13
O Portel do Alentejo...

Uma linda canção regional do alentejo acompanhada de belas imagens dos campos do alentejo...
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Le Petit Journal - Les Instantanés de la Guerre




'Le Petit Journal'
Colorful Front-Pages and Allegories Galore
two typical coverpages - left a patriotic allegory and right a portrait

'Le Petit Journal' was a long existing illustrated magazine supplement that appeared in a somewhat old-fashioned 19th century format. The back and front covers were printed in bold and eye-catching color, usually with prints or etchings of news-worthy events of the more sensationalist kind or patriotic allegories. The price was amazingly cheap and the print-run ran into more than a million copies for every issue. The inside pages consisted of text and at times pages of photographs or large-sized war maps. .
Some of the following scans are from various issues published in 1919 and as can be seen, throughout the year almost every cover was dedicated to matters pertaining to the Great War. During the war years themselves, a large number of coverpages were devoted to depicting various well-known and lesser-known commanding officers and heros of the Allied armies. In the later years of the war, instead of producing colored illustrations, use was made of hand-colored photographs, often decorated with flowery motifs or set out in more modernist appearing collages.
two typical pages of war photos
two examples of backpage illustrations
left : Russian women volunteers
right : a young regimental mascot with the Russian volunteers in France

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Alentejo - Olhares


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mgfurtado 1 de Novembro de 2006 — Some OLHARES (www.olhares.com)photography authors gathered together under a theme. Text, voice and direction by Mário Furtado. Thank you, Pat Metheny, for the beautiful song. No comercial aim intended. Photo authors are:Alexandre Baptista
Carlos C. Carvalho
Carlos Pedro
Carlos Quintas
Edgar Alves
El Blura
Fernando Baptista
Filipe Caetano
Gonçalo Pereira
Henrique de Jesus
João Radich
Joaquim Santos
José Branco
José Elias
José Luís Mendes (Zé Luís)
Karina,Luís Lobo Henriques
manuel dinis cortes
Marco Aresta
Nuno de Sousa
Nuno Marques
Paulo A.
Paulo Arrais
Paulo Vaz
RAPHAEL o pensativo
Rui Figueiredo
Rui Miguel Figueiredo
S. Ordobrás
Sandra Liceia
Sérgio Rodrigo
Tiago Trindade
and
u m b r i a.
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Alentejo - A lonely landscape in Alentejo / A solidão na paisagem alentejana


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AnteroCampeao 19 de Setembro de 2008Estudo fotográfico em torno de 6 fotos e 4 paisagens Photographic study of about 6 photos and 4 landscapes
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Fotos de Antero Campeão
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Luís de Freitas Branco - Suíte Alentejana

Suite Alentejana Nº 1 (Fandango) de Luís de Freitas Branco



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jprmp 8 de Maio de 2007 — A publicação deste vídeo tem três propósitos:
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- Divulgar a obra dessa figura cimeira do panorama musical português do Século XX que foi o grande compositor Luís de Freitas Branco;
- Destacar no Youtube o universo da Música Erudita Portuguesa;
- Promover e homenagear essa grandiosa, bela e apaixonante região que é o Alentejo (Portugal), através da diversidade das suas paisagens, dos seus locais, dos seus monumentos e das suas gentes.

Neste vídeo podemos escutar o "Finale" (Fandango), 3º e último andamento da Suite Alentejana Nº 1 de Luís de Freitas Branco, numa interpretação da Orquestra Sinfónica do Estado Húngaro, sob a regência do maestro Gyula Németh.

Nota: As fotos foram retiradas da Internet e foram aqui utilizadas sem o prévio consentimento dos seus autores. Presumo eu que sejam eles os primeiros a aceitar, a apreciar e a valorizar este "abuso". :-D
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Suite Alentejana Nº 2 (Final) de Luís de Freitas Branco


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jprmp 8 de Maio de 2007
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quarta-feira, 16 de junho de 2010

O Kant_O_XimPi fez 4 anos em 14 de Junho

 

 

DOIS MOMENTOS, DOIS RETRATOS

DOIS MOMENTOS, DOIS RETRATOS

1 . - Uma "manife" em Évora, num verão quente, nos idos de 1974

Ontem, no comício do PC, ali no Rossio de S.Brás, o Álvaro Cunhal falou na independência dos povos das colónias. (...) Ainda antes do Álvaro Cunhal falar o palco foi abaixo por duas vezes. Uma multidão imensa concentrava se em redor do palco, junto ao Monte Alentejano, agitando se inúmeras bandeiras vermelhas do PC. Em uníssono, a multidão repetia as palavras de ordem, de punho erguido.
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Detecto, junto a mim, um grupo que vai comentando ao sabor das intervenções. Quando se falam nas torturas sofridas pelo Cunhal e outro comunista, uma mulher ao meu lado diz me: "Coitadinho! Bandidos!" E a multidão grita: "Morte à PIDE!". Dois delegados dos Sindicatos Agrícolas (Évora e Beja) enumeram as quebras dos contratos colectivos de trabalho e o nome dos latifundiários. A multidão grita: "Morte aos cães!" "A terra a quem a trabalha!".
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Ao meu lado, algumas mulheres dizem: "É assim mesmo!" e "Essa sou eu!", quando se fala em ranchos despedidos. O Álvaro Cunhal cita as lutas revolucionárias dos trabalhadores alentejanos e a "palha" que os latifundiários teriam mandado dar aos trabalhadores que imploravam comida. E a revolta; que enquanto houvesse ovelhas, galinhas e porcos não comiam palha os trabalhadores!
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O Partido faz a sua campanha e no palco estão pessoas que já conheço de há muito. Por detrás delas, enormes, em fundo vermelho, as efígies de Marx, Engels e Lenine. A brancura de Évora é agora quebrada por cartazes do PC. Marx, Engels e Lenine enchem as ruas, conjuntamente com cartazes com a foice e o martelo. (1974.07.28)
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2. - Passa Camarada
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Na Voz do Operário ao chegar à porta para o pátio olhei por cima do ombro e vi o Álvaro e o seu guarda-costas e disse-lhe naturalmente: «Passa, camarada» ao que ele retorquiu " Passa tu, camarada, que chegaste primeiro» E assim ficámos lado a lado no pátio, numa lenta fila para o almoço, enquanto as pessoas vinham cumprimentá-lo ou apresentá-lo aos filhos de colo ou não.
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Foi uma hora divertida e tenho pena de não ter fixado por escrito as conversas, as impressões já desvanecidas e, sobretudo, os diálogos bem humorados com Dias Lourenço sobre as peripécias em torno das fugas de Peniche.
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Porquê Kant_O_XimPi

Lo que mas quiero [ Violeta Parra ]


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unidossomosfuertes 29 de Fevereiro de 2008 —  
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.El hombre que yo más quiero,
en la sangre tiene hiel.
Me priva de su plumaje,
sabiendo que vá a llover.

El árbol que yo más quiero,
tiene dura la razón.
Me priva de su fina sombra,
bajo los rayos del sol.

El cielo que yo más quiero,
se ha comenzado a nublar.
Mis ojos de nada sirven,
los mata la osbcuridad.

El rio que yo más quiero,
no se quiere detener.
Con el ruido de sus águas,
no escucha que tengo sed.

Sín abrigo, sín la sombra,
sín el água, sín la luz.
Sólo falta que un cuchillo,
me prive de la salud.

Violeta Parra was one of the leaders in the Chilean folk song renewal or cancion nueva movement of the 1950s-60s. Her songs, along with those of Victor Jara, played a significant role in the popular movement which would bring Allende to power before the military crushed the democratically elected government.
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Violeta Parra was not only a composer and song writer, but an accomplished artist and weaver. She was born on October 4,1917 the daughter of a school teacher and seamstress. Coming from an unusually talented family which numbered several musicians, artists and poets, she began life singing at fairs and circuses until she was discovered by the poet Pablo Neruda in the late 1950s. Her compositions and their lyrics combine Andean elements. Her performances generally also included the use of Andean intruments. Violeta Parra died in 1967. Her songs and compositions are included today in the repetoire of singers and musicians from all over the world.
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http://www.csupomona.edu/~plin/women_...

Violeta Parra was the first Latin American to have one-person exhibit at the Louvre

Con amor desde Paterson New Jersey

Aporte del usuario Guiu65:
"La letra de esta canción es de Violeta Parra, la música es de su hija Isabel y la que canta se llama María A. Mejía, del duo Atacama."
Thanks!
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Odete diz:
12/Mai/2010 16:15
Beijinhos com carinho querido amigo.
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João Afonso - Morrer em Zanzibar


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universalmusicpt 1 de Dezembro de 2008João Afonso - Morrer em Zanzibar
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As Histórias que contavas lá da aldeia
a bola no telhado da vizinha
o branco no amarelo da eira
e a calça sem bainha

A varanda e a calça sem bainha
a semana
na baía a pesca à linha
a vizinha, o que querias da montanha

Que pensamento querias da montanha
fugiste um dia p´ra Kilimanjaro
seria o jeito sábio dum cocoana
a falar sob um céu claro

a marimba, a falar sob um céu claro
a madeira, de pau preto um aparo
a montanha
vou de boleia em boleia

Agora vou de boleia em boleia
agora vou voltar a ser menino
parar, ouvir silêncios sobre a areia
visitar-te em S. Francisco

Sobre a areia, visitar-te em S. Francisco
lua cheia
a subir tudo o que lembro
a gavinha, numa noite de Dezembro


Deixaste o sol na praia de Inhambane
no cais da ponte o dia do vapor
amigos que p´ra longe a pátria bane
num retrato de esplendor

Ventoinha, num retrato de esplendor
cazuarina, quinino saga e calor
a cantina
com o sabor ,o leitor

e fico com o sabor das leituras
percorro a vossa esteira pelo mar
com um baú de histórias de aventuras
vou morrer em Zanzibar
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http://www.lyricstime.com/jo-o-afonso-morrer-em-zanzibar-lyrics.html
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terça-feira, 15 de junho de 2010

BY INVITATION ONLY NO ALMADA FORUM

Rostos - 15.06.2010


  rostos.pt



15.6.2010 - 20:20

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Uma perspectiva inovadora e única de 23 grandes nomes da música
BY INVITATION ONLY NO ALMADA FORUM <br>
Uma perspectiva inovadora e única de 23 grandes nomes da músicaA exposição By Invitation Only, uma produção exclusiva para os Centros Comerciais geridos pela Multi Mall Management, vai encerrar a sua viagem pelo país no Almada Forum.

Esta exposição fotográfica original revela uma perspectiva inovadora e única de 23 grandes nomes da música portuguesa, captados pela lente do fotógrafo Simon Frederick. Conheça o outro lado dos nossos artistas, de 15 a 30 de Junho, no Corredor Central com a Praça da Natureza, no piso 0 do Almada Forum.
Carlos do Carmo, Rui Veloso, Zé Pedro ou Rita Guerra são apenas alguns dos nomes bem conhecidos dos portugueses que aceitaram o convite do fotógrafo Simon Frederick para integrar a exposição By Invitation Only que vai estar patente no Almada Forum.

Com um total de 46 fotografias, a exposição nasceu do amor pela diversidade de som e ritmos da música moderna portuguesa que o fotógrafo Simon Frederick descobriu no nosso país. By Invitation Only é a celebração e fusão das personalidades de um vasto leque de artistas de diversos estilos musicais, unidas por Simon Frederick numa perspectiva inovadora e única.
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Simon Frederick, de nacionalidade inglesa e que está radicado em Portugal há 3 anos, auto intitula-se como criador de imagens de arte, celebridades, moda e música. Iniciou a sua carreira como fotógrafo de música na MTV e BBC, colaborando com alguns artistas de renome internacional. As suas imagens distinguem-se pela cuidada composição e luz, que mais do que captar momentos, criam realidades próprias. Trabalha principalmente em Portugal, Reino Unido e Estados Unidos, no entanto, muitas das suas imagens já percorreram revistas do mundo inteiro (www.simonfrederick.com).
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Músicos fotografados: Angélico; Camané; Carlos do Carmo; Cifrão; Da Weasel; Pacman; David Fonseca; Dulce Pontes; Filipa Cardoso; Kalaf; Maria João; Milton Gulli; Olavo Bilac; Paulo Gonzo; Rita Guerra; Rita Redshoes; Rui Pregal da Cunha; Rui Veloso; Sam The Kid; Sp & Wilson; Tereza Salgueiro; The Gift; Zé Pedro.
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domingo, 13 de junho de 2010

Steve McCurry - Maior fotógrafo vivo do planeta fala de sua vida e das imagens que fez -



CADERNO DE DOMINGO - [ 13/06 ]
Gustavo Ferrari - Redação Cruzeiro do Sul
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Notícia publicada na edição de 13/06/2010 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 2 do caderno D - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.

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  • Agência Magnum / Divulgação  
  • Steve McCurry é atualmente o principal fotógrafo da Agência Magnum, fundada pelo francês Henry Cartier-Bresson
     
Da janela de seu apartamento, localizado em Manhattan, Nova Iorque, nos Estados Unidos, Steve McCurry presenciou, a três quarteirões de distância, o símbolo do capitalismo norte-americano ruir diante dos próprios olhos. Acostumado a cobrir guerras e catástrofes naturais, o ‘papa’ do fotojornalismo da Revista National Geographic não pensou duas vezes: pegou a sua câmera e registrou o que foi sobrando das torres gêmeas. Era 11 de setembro de 2001. Era o fim do World Trade Center. “Acordei com um telefonema. Confesso que não acreditei no que via. Uma sensação horrível.”
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Membro da elitista Agência Magnum desde 1986, fundada por ninguém menos que o francês Henri Cartier-Bresson, morto em 2004, McCurry estudou cinematografia na Universidade do Estado da Pensilvânia, em 1968. No entanto, acabou se formando em artes cênicas e graduou-se em 1974. Se interessou pela fotografia quando começou a produzir imagens para um jornal de sua universidade, o The Daily Collegian.
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O americano começou a sua carreira de fotojornalista cobrindo a invasão soviética ao Afeganistão. Para isso, utilizou vestimentas típicas para se disfarçar e esconder seu equipamento. Suas imagens estavam entre as primeiras do conflito e por isso foram largamente publicadas. McCurry continuou a fotografar conflitos internacionais no Afeganistão (onde esteve mais de 30 vezes) e em outros países como Camboja, Filipinas, Líbano, além do Irã-Iraque e também no Golfo Pérsico.
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O drama humano - principal marca de seus registros em campo - chama a atenção pelo contraste de cores, ao mesmo tempo em que é carregado de sofrimento, tristeza e emoção. Capturar a essência e a condição do homem é o que McCurry busca nas imagens. Ele observa o fotografado e espera pelo momento em que “a alma da pessoa é revelada”, seja pela expressão, pelo olhar ou pelas ações.
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Além de regiões em conflito, o ‘papa’ do fotojornalismo percorreu e explorou países exóticos, que lhe renderam belas fotos, como Índia (onde esteve 90 vezes), Nepal, Vietnã, Iêmen, Camboja, Paquistão (onde morou por dois anos) e Filipinas. Mas foi com a célebre imagem da menina afegã de olhos verdes Sharbat Gula, então com 13 anos de idade, em 1984, fotografada num acampamento de refugiados em Nasir Bagh, no Paquistão, que McCurry ganhou notoriedade. A foto, capa da National Geographic, publicada em junho de 1985, rendeu-lhe fama, respeito, e mais trabalho.
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Aos 60 anos de idade e com um currículo invejável, que inclui prêmios como a Medalha de Ouro Robert Capa, o Magazine Photographer of the Year, o Oliver Rebbot e o World Press Photo, McCurry esbanja carisma e paixão pelo que faz. Humildade e técnica são duas de suas qualidades. Ele é o único fotógrafo a utilizar a última geração de filmes Kodachrome, produzido apenas no formato fotográfico 35mm, em ISO 64, cuja produção encerra-se em novembro deste ano. Devido à complexidade do processo de revelação, apenas um laboratório no mundo oferece esse tipo de serviço, o Dwayne’s Photo, em Kansas, EUA.
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Minutos antes de palestrar para um respeitável público, formado em sua maioria de fotojornalistas, no projeto Grandes Mestres da Fotografia, que lotou o auditório do Museu da Imagem e do Som (MIS), na nobre avenida Europa, coração do Jardins, São Paulo, em dia 20 de maio, - sua quarta estada em território brasileiro -, McCurry concedeu entrevista ao Cruzeiro do Sul. Assim como na palestra, falou sobre a Índia, seus desafios, sua carreira.
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O início
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“Comecei a minha carreira fotográfica na Filadélfia, Estados Unidos, trabalhando em um empresa na repartição de cartas. Tinha 19 anos e percebi que havia um mundo a ser descoberto. Me inspirei a viver na Europa durante um ano e depois quis continuar viajando. Decidi voltar à escola e fazer fotografia.”
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National Geographic
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“Fui a primeira vez para a Índia, em 1978, e trabalhei mais de 90 vezes lá. A viagem era para durar seis semanas, mas eu me entusiasmei e permaneci por dois anos. De lá fui para o Nepal e Paquistão. Quando retornei aos EUA fui para a National Geographic. Eles me deram um compromisso, pois sou uma pessoa muito insistente. No fundo, penso que ficaram com pena de mim. O meu compromisso com a National era de três meses, mas eu levei sete meses para concluir o trabalho. Foi muito difícil. O pior foi que a história nem chegou a ser publicada. Mesmo assim, o pessoal da revista fez questão de me pagar. Fiquei deprimido. O pagamento foi feito via correio. Quando abri o envelope, com o cheque, vi que havia algo errado. O acerto pelo trabalho era de US$ 3 mil, mas me enviaram US$ 30 mil, mesmo com a história não sendo publicada. Me disseram: ‘Você não quer ir para Bombai (atualmente Mombai), na Índia?’”
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Histórias da Índia
“A foto que mais me marcou foi de uma mãe junto de sua filha pedindo esmola na janela do táxi que estava, em Bombai (Mombai). Essa foi a que liderou minha carreira. Outras foram de templos religiosos. Cheguei a ficar mais de duas horas, estático, para fotografar fiéis orando em uma árvore. Em outra situação, permaneci por quatro dias em uma vila inundada, localizada em uma área suja e nojenta, em um vilarejo. Outra foto marcante foi a de um alfaiate, que voltou para ‘salvar’ a sua máquina na inundação. Ele me viu e sorriu para a câmera. Essa foto foi capa da National Geographic, em dezembro de 1984. Não me cansei de fotografar o Taj Mahal. Sempre busquei registrá-lo sob um ângulo novo, diferente. Queria mostrar como era a vida do indiano em volta do templo. Uma história que me recordo bem foi a viagem de trem atravessando a Índia, Bangladesh e o Paquistão. Queria mostrar como o trem passava rente ao Taj. Consegui enquadrar o trem e o templo no mesmo quadro. Em outra situação, no mesmo trem, consegui pegar uma foto em que a tripulação serve café da manhã pela janela de um vagão ao outro. Fiquei quatro meses nesse trem. Gosto de fotografar as pessoas dormindo em lugares variados. Fiz várias fotos assim em Calcutá. Em março deste ano fotografei um festival na Índia. Foi a maior reunião humana na história do mundo. Reuniu 20 milhões de pessoas, que chegaram durante meses para o evento. O engraçado é fotografar e não compreender os rituais, principalmente porque lá se fuma muito haxixe.”
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Marca do olhar
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"Sharbat Gula era uma menina em que a dor estava visível em seus olhos. Ela estava meio acanhada, tímida, assustada. Resolvi ficar uns cinco minutos fotografando outra refugiada, no acampamento. Fiz isso com outras pessoas. Até que consegui sua confiança. Foram horas tirando fotos naquele local. Consegui pegar a expressão que queria do rosto da jovem. Uma foto inesquecível, que fala por si. Depois que a matéria saiu na National Geographic, recebi milhares de cartas de pessoas que queriam adotá-la. Outras pessoas queriam casar com a menina. Em 2001, voltei ao Afeganistão. Queria encontrá-la novamente. Uma mulher chegou a me convencer de que ela era a pessoa da capa da revista. Depois de muito procurar, apareceu um rapaz que dizia conhecer o irmão dela. Dezessete anos depois, em 2002, finalmente encontrei Sharbat. Estava casada e com filhos. Fiz uma nova foto, que também rendeu capa da National. Uma escola foi construída às pessoas refugiadas, em homenagem a foto. Tenho uma satisfação muito grande por isso."
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Cores
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“Não sou um fotógrafo de cores. O que me interessa é registrar a vida, o drama. Se tirar as cores das minhas fotos (deixá-las preto e branco), mesmo assim elas continuarão vivas, fortes. Não gosto de fotografar em ambientes na contraluz. Gosto de fotografar o ambiente em que as cores revelam uma situação. Muitos fotógrafos trabalham em preto e branco, porque a cor, às vezes, distrai a emoção. Mas é possível fotografar e ter prazer. O fotógrafo não deve explicar a foto. Ela (a foto) deve falar por si. Se você quiser mais explicação, então deve ser escritor, não fotógrafo. Sempre sinto que posso contar a história de uma forma visível. Ninguém que chegou no nível da National Geographic precisa escrever legenda para uma foto.”
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Desafios
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“Todo dia para mim é um novo desafio. Procuro criar algo novo, trabalhar em um nova situação. Uma história tem que vir de dentro; tem que ter um significado para você. Isso é um desafio. A rota da cocaína, na Bolívia, Colômbia, é uma história impossível de ser fotografada. Um amigo tentou fazê-la, mas não conseguiu. Os próprios traficantes não acreditaram que ele era um repórter da National Geographic. Uma foto curiosa que fiz foi de um homem se esquentando do frio com fogo, dentro de um árvore. Já em Mandalay, Mianmar, fiz foto de homens equilibrando uma pedra. Nessa ocasião, chegaram a me oferecer uma cobra como alimento. Mandaram eu ao Paquistão. Lá, cheguei a ser preso duas vezes. Na primeira vez, fiquei cinco dias no cárcere. Colocaram correntes nas minhas pernas. Era proibido fotografar no local em que estava.”
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Tristes lembranças
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“Certa vez fiquei emocionado com uma criança que não conseguia caminhar de forma ereta. Ela me viu e perguntou se eu não queria tomar café na casa dela. Isso serviu de inspiração. Tratava-se de uma pessoa que nunca teve nada na vida, a não ser disposição. Eu acho que cobrir situações de miséria, em lugares onde isso aconteça, como catástrofes, é algo que o fotojornalista deve almejar, sempre. Não posso sofrer com o que vejo. Eu vejo tragédias, dramas, dores envolvendo pessoas, animais... Vejo pessoas tentando entender o que acontece, sendo que nem elas sabem o por que passam por certas situações, situações extremas. No Peru, fiz uma foto de crianças torturando um garotinho. Ele tinha até uma arma de brinquedo. Um dos trabalhos mais importantes que fiz, porém triste, foi a explosão de mais de 600 postos de óleos na Guerra do Golfo, em 1991.”
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Lição
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“Pensei como seria diferente minha vida se tivesse vindo essas vezes ao Brasil (referindo a quantidade de vezes em que esteve na Índia). Conheci o Rio de Janeiro e fiz uma lista de histórias que pretendo registrar no país. É um lugar incrível. Tem muitas paisagens, uma geografia excelente, assim como a cultura. Um lugar único, bem diferente dos outros do mundo. Minha família entende o que faço. Nunca questiona onde e quando vou, nem quando volto. Cresci numa família muito religiosa, mas o budismo me ensinou a ter compaixão, a respeitar as pessoas, a ter paz. Essa é a grande lição que aprendi.” Galerias de fotos do entrevistado podem ser conferidas em www.stevemccurry.com.
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13 de junho de 2010 | N° 16365Alerta 

ENTREVISTA

Retratos da condição humana

Steve McCurry, o fotógrafo que sensibilizou o mundo com a imagem de uma menina afegã, ensina o caminho para uma foto memorável

Em 1985, a revista National Geographic publicou na capa uma foto que mexeu com o mundo: uma refugiada afegã de 13 anos, com os cabelos cobertos por um pano velho, rosto sujo e olhos incrivelmente verdes e expressivos. Considerada uma das imagens mais marcantes do século 20, ela é de autoria do fotógrafo norte-americano Steve McCurry. Nesta entrevista, ele pontua que nem a melhor máquina, nem a melhor luz ou ângulo são suficientes para se fazer uma boa foto. É tudo uma questão de captar a essência do momento, do ser humano, ensina. Entre coberturas incríveis de guerras e prêmios internacionais, McCurry eleva o fotojornalismo à arte em seu mais puro conceito.

Pergunta – Qual é o caminho para uma foto se tornar mundialmente conhecida?

Steve McCurry –
Como em qualquer vocação, você precisa de tenacidade, perseverança e compromisso com o seu trabalho para ser um fotógrafo de sucesso. Eu acho importante a habilidade de ser capaz de isolar e reconhecer uma foto ou uma cena. Nas fotos de pessoas que fotografo, por exemplo, reconheço algo fascinante sobre a aparência daquela pessoa. Sejam seus olhos ou o jeito como está vestida. Eu procuro achar uma espécie de conexão que prenda a minha atenção.

Pergunta – Isso torna a foto especial?

McCurry –
Uma boa foto é aquela que diz algo sobre a pessoa ou a situação. Nós, de alguma forma, nos vemos nas outras pessoas, então um bom retrato também deve dizer algo sobre a condição humana. Nós vemos a emoção da pessoa que podemos relacionar – felicidade, tristeza, sofrimento. Quando o retrato não faz sucesso, é porque você não enxerga nada além dele. Você deve ser levado em alguma direção particular.

Pergunta – Qual foi o seu maior desafio profissional?

McCurry –
Foi durante a Guerra do Golfo, pelo impacto do ambiente. Não tanto pela guerra, mas pelo que sobrou do pós-batalha. Todos os poços de petróleo estavam pegando fogo. Isso era uma experiência absolutamente fora do normal, esteja você em outro planeta, num set de filmagem ou no fim do mundo. Seiscentos poços queimando. Às 11 horas da manhã, era como se fosse noite. Animais vagavam pelos campos perdidos, soldados iraquianos mortos por todos os lados. Era a visão do inferno.

Pergunta – Já passou algum tipo de situação inusitada para tirar uma boa foto?

McCurry –
Eu estava fotografando os efeitos dos foguetes e projéteis de morteiro em Cabul, no Afeganistão. De repente, um monte de foguetes começou a cair na cidade. Eu precisava achar um abrigo. O primeiro refúgio que encontrei foi o que parecia ser uma série de prédios abandonados. Entrei e me escondi. Quando vi, estava dentro de um sanatório abandonado, onde moravam vítimas de mais de uma década de guerra, soldados que perderam a sanidade mental e civis traumatizados pela indelével imagem de horror que presenciaram. Não tinha eletricidade, água potável, enfermeiras nem médicos. A maioria dos homens e mulheres ficava caminhando ou sentado o dia inteiro num estupor catatônico. Eu os fotografei, e eles pareciam completamente alheios à minha presença. Em um certo ponto, olhei para trás e um homem batia com uma pedra na cabeça de outro. Eu apenas lembro de ver uma enorme pedra de cem quilos balançando sobre a cabeça de outro homem. Nós o pegamos com dificuldade e corremos para levá-lo ao hospital.

Pergunta – É mais fácil fazer boas fotos com as câmeras digitais?

McCurry –
Uma das coisas mais interessantes da foto digital é que você é capaz de fotografar com muito pouca luz e, mesmo assim, parar uma ação, quando mesmo os filmes mais rápidos não podiam congelar a imagem tão bem. A velocidade do disparador era muito lenta, e objetos que se movem saíam borrados. Eu sempre fico atônito em poder fotografar com clareza e nitidez em condições extremas de luz baixa.

Pergunta – O que é mais importante para uma boa foto: o momento ou a condição?

McCurry –
Quando a foto é apenas baseada na preocupação da luz e da cor, não acho que vá muito longe. A cor sozinha e a estrutura não são, para mim, o que fazem a foto ser boa. Não penso muito sobre o uso da cor, a não ser quando quero suavizar uma paleta que pode estar distraindo ou chamando atenção. Eu penso que um fotógrafo precisa dizer alguma coisa sobre a pessoa: ou fornecer algum insight. Mostrar como a vida dela é diferente da minha.

Pergunta – Como foi seu primeiro contato com uma câmera fotográfica?

McCurry –
Estudei história e cinema na universidade. Eventualmente, me concentrando em fazer filmes. Durante minha busca por uma carreira no nicho de documentários, fiz aulas de belas artes na fotografia. Ao mesmo tempo, comecei a fotografar para o jornal da universidade. Era como se um novo mundo se abrisse para mim. A fotografia era um trabalho solitário, enquanto os filmes eram um esforço de equipe. Amei a ideia de poder sair por uma porta e começar um trabalho, a fotografar sem um plano particular em mente, apenas pensando e observando a vida ao que ela se revela, desde uma fascinante rachadura numa calçada ou parede a uma fotografia de uma pessoa interessante.
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Divulgação -
MARIA FERNANDA SEIXAS | Correio Braziliense
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sábado, 12 de junho de 2010

Henri Cartier-Bresson: o espelho do mundo

MoMA
09.06.2010 - Francisco Valente, em Nova Iorque
Henri Cartier-Bresson, um dos pais da fotografia moderna, como já não se via há três décadas em solo americano: retrospectiva no MoMA, em Nova Iorque, até ao final do mês. Mais do que uma obra, é todo um século que está em revista
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Nascido em 1908, desaparecido 96 anos mais tarde, Henri Cartier-Bresson foi das poucas pessoas que puderam testemunhar a passagem de um dos séculos mais importantes da História. Mas não fosse ele um dos chamados "pais" da fotografia moderna e talvez esse facto tivesse sido pouco relevante. "Henri Cartier-Bresson: The Modern Century", a retrospectiva que o Museum of Modern Art (MoMA), de Nova Iorque, acolhe até ao próximo dia 28, omostra justamente como os dois, Cartier-Bresson e o século XX, caminharam lado a lado.
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Vindo de uma família burguesa parisiense cuja fortuna assentara numa fábrica têxtil, Henri Cartier-Bresson mostrou cedo o seu desconforto relativamente aos modos de vida, ainda que seguros, do seu círculo de sangue mais próximo. Recusando um futuro numa empresa familiar, encontraria um estímulo nos circuitos intelectuais de Paris, onde travou conhecimento com as ambições artísticas e políticas das sensibilidades intelectuais da cidade. Estamos nos anos 20 e 30 da Europa pré-guerra: vive-se um ambiente fervilhante na arte europeia, assim como tempos revolucionários na sua sociedade industrial.
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É então que se aproxima dos surrealistas. Conhece Max Ernst e Julien Levy (que viria a mostrar o seu trabalho mais tarde), entre outros que, como acontecerá com grande parte dos seus encontros na vida, permanecerão sempre seus amigos (e de quem mais tarde fará retratos). As origens do surrealismo viriam a dar-lhe o estímulo que procurava fora do seu meio: uma fuga da moral burguesa e um refúgio na vanguarda. Sendo esse, antes de mais, um movimento baseado no amor, Cartier-Bresson aprendeu a abrir a sua mente às sensibilidades emocionais e intelectuais de um outro mundo. As suas origens encontravam-se para além de uma cidade - um mundo de novas formas cubistas cuja inspiração caía na arte africana, que se revia na exaltação romântica de Rimbaud, nas possibilidades narrativas de Joyce, na justiça e no idealismo de Hegel. Será a influência deste grupo que o fará ver a paridade entre ideias e culturas, a existência de um mundo sem hegemonias explícitas.
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Peter Galassi, curador da exposição agora patente no MoMA - a primeira retrospectiva do fotógrafo em solo americano em três décadas, numa altura em que merece, depois da sua morte em 2004, um novo tratamento e uma reapreciação institucional - sublinha a sensibilidade do fotógrafo: "Tinha uma inteligência muito grande e precoce. Tinha uma cultura muito rica, uma bagagem que levava com ele quando se escapava para tirar fotografias pelo mundo. Era um rebelde, mas ao mesmo tempo não deixou de ser um 'grande burguês'. No entanto, as suas fotografias eram óptimas, porque em qualquer situação em que se encontrasse, em qualquer patamar da escala social, conseguia adaptar-se a ela e percebê-la. E isso reflecte-se muito no seu trabalho".
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O momento decisivo
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Com a Europa ainda (mas cada vez menos) em paz, Cartier-Bresson explora as suas motivações criativas, sem sucesso, na pintura. Será na fotografia que virá a formar o seu caminho: uma estrada onde travará conhecimento com as civilizações e as culturas que rodeiam a europeia, então ainda o centro do planeta.
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Numa primeira fase, vira-se para o cenário da rua e para as suas personagens, um palco que irá definir as suas primeiras fotografias conhecidas: o momento mágico em que o fotógrafo captura o acto de vida e o preserva na possibilidade fotográfica de parar o tempo. É o seu "momento decisivo", aquele que define algumas das suas imagens mais emblemáticas, mostrando o cenário essencial e despido do tempo. Daqui sairá a fotografia moderna, a captação do movimento da vida como tema fotográfico. Cartier-Bresson acrescentar-lhe-ia o seu instinto gráfico: um corpo que nunca irá tocar no chão alagado das traseiras da estação de Saint-Lazare, ou jovens crianças que se multiplicam geometricamente nas janelas e nos destroços de uma paisagem que parece não existir.
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Em 1939, a Europa entra em guerra e o fotógrafo é chamado. Com a rendição francesa, torna-se prisioneiro de guerra, condição da qual conseguirá sair após fugir do seu campo de detenção. Será depois do fim do conflito, com um continente devastado e traumatizado, que decide ir ao encontro do mundo. Um outro colega e amigo, Robert Capa, convence-o a enveredar pelo fotojornalismo. Juntos, estão na origem da criação da agência Magnum, que se irá tornar num dos mais fortes espelhos da realidade humana, e Cartier-Bresson, talvez o único fotógrafo do grupo que conseguiu sempre estar entre a função do jornalista e a visão criativa de um artista, fará do mundo uma plataforma para o seu trabalho. A dualidade de espírito entre a fotografia como arte e como profissão acabaria por marcar a sua carreira, criando, segundo Peter Galassi, uma tensão positiva, e abrindo o caminho para a descoberta e a assimilação de outras culturas: "A sua opção pelo fotojornalismo enriqueceu muitíssimo o seu trabalho", afirma o curador. A profissão de fotojornalista, tal como ela se reconfiguraria depois da guerra, era um veículo perfeito para um olhar independente. "É essa a importância da Magnum: permitir aos fotógrafos trabalhar para as publicações sem serem empregados delas. [A agência] dava uma forma ao desejo de Cartier-Bresson de encontrar o mundo e tentar apreendê-lo."
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Estudar o mundo
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A partir de 1947, Cartier-Bresson deu sequência às suas primeiras viagens de antes da guerra, tornando-se num "funcionário artista" em permanente deslocação. A fotografia era o seu modo de viagem e a viagem era o seu modo de vida; como objecto, interessava-lhe o Homem e a sua intervenção na paisagem. Uma atitude original dentro de um mundo ainda colonial e assente em supremacias civilizacionais, caracterizada pelo estudo atempado da realidade e pelo respeito por quem é fotografado. No fundo, a aceitação precoce de um interesse na verdade multicultural da humanidade. Galassi fala desta sensibilidade específica do fotógrafo: "O mais extraordinário no trabalho de Cartier-Bresson é toda a sua amplitude geográfica e histórica. É o único fotógrafo em que isso é verdade: vemos o mundo tal como era antes da revolução industrial, e que ele adorava tanto". O comissário evoca, como exemplo, as fotografias tiradas em Portugal (na Nazaré, em 1955): "A fotografia dos pescadores portugueses com as redes de pesca poderia ter sido feita há centenas de anos atrás. Esse mundo não tinha realmente desaparecido, apesar de o trabalho dele também entrar pelo nosso mundo da tecnologia e do mercado. É essa a amplitude extraordinária do seu trabalho."
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O interesse de Cartier-Bresson pelas diferentes civilizações, assim como o desejo de assimilação dos seus diferentes modos de vida, resultam num retrato honesto dos povos, despojado de dramatização ou de artifícios. Tal como os seus primeiros trabalhos, as imagens do pós-guerra são marcadas por um respeito igualitário pelos seus intervenientes. Para Cartier-Bresson, nenhum assunto e nenhuma pessoa estava abaixo do seu interesse. "Temos aqui um europeu branco de uma classe confortável que vai dar uma volta ao mundo. Podemos dizer que isso é a personificação de uma atitude colonial, mas podemos também dizer que é o desafio de ver o mundo como um conjunto de culturas muito diferentes, e de as apreciar, assimilar e respeitar", nota o comissário.
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O instinto do fotógrafo levou-o ainda a estar presente em vários momentos decisivos desses outros mundos, nomeadamente no funeral de Gandhi na Índia, cujas imagens foram as únicas que o Ocidente recebeu. Nesses anos, Cartier-Bresson explorou ainda vários países da Ásia: o Paquistão, o Sri Lanka, a Indonésia, a Singapura e a China (a sua estadia de quatros meses em 1958 resultou no trabalho "The Great Leap Forward", o retrato da industrialização chinesa de Mao, presente na exposição). Tornou-se igualmente no primeiro ocidental a fazer um retrato fotográfico do povo da União Soviética após a morte de Estaline em 1953, abrindo o olhar da Europa para um mundo que chegava apenas como mito aos ouvidos do resto do continente. Um retrato que não se diferenciava, afinal, assim tanto da imagem daqueles que o viam do outro lado. Cartier-Bresson iria contrapor essas imagens com várias outras de muitas viagens aos Estados Unidos, o país estrangeiro que mais visitou, estabelecendo, assim, um verdadeiro retrato comparativo do empenho físico e laboral do mundo comunista e da ordem corporativa do Ocidente capitalista: o mundo enquanto ele acontecia.
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O elogio da diferença
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Mas se Cartier-Bresson funcionou como os olhos do Ocidente para tantas partes inacessíveis do planeta, o que dizer hoje da sua relevância numa época em que as distâncias deixam de existir?
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"Claro que, agora, tudo mudou", diz Paul Galassi. "Não apenas a maneira de viajar, mas aquilo que ele sentia que era a força da modernidade, a tecnologia e o mundo do consumismo. Nesse sentido, o mundo está muito diferente, mais nivelado, e, se Henri Cartier-Bresson tivesse surgido no mundo actual, talvez seguisse outro caminho". O fotógrafo mantinha uma preocupação de tolerância nas suas imagens - a própria luz das fotografias dá igual relevância aos seus elementos, mantendo uma coesão e uma harmonia que respeitam uma superfície uniforme.
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Por outro lado, o estudo cultural que o seu trabalho oferece sobressai ainda mais nos dias de hoje. Galassi continua: "Quanto mais as superfícies de duas culturas se parecem uma com a outra, maiores são as diferenças culturais que as caracterizam por baixo delas. Henri Cartier-Bresson estava interessado em explorar essas diferenças, em conhecê-las e inscrevê-las no seu trabalho. A oportunidade que a fotografia tem de se inscrever e apreender um mundo diferente ainda existe. Consegue imaginar o quão divertido seria para ele fotografar-nos com todos os nossos pequenos aparelhos? Podia-se fazer um livro só sobre isso."
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Se a distância entre culturas não se extingue, Cartier-Bresson ter-nos-á ajudado a vê-la melhor. No entanto, é necessário um tempo de assimilação intrínseco ao método de captação do momento fotográfico. Algo que também hoje é relevante, numa época em que se pede uma imagem urgente e imediata, sem pensamento. "O desafio ainda existe", diz Galassi. "É verdade que estamos enterrados em imagens. Mas ainda temos o controlo sobre o que fazemos com elas. As fotografias podem ser parte de uma maneira de apreender e perceber o mundo."
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A gestão de uma herança
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"Henri Cartier-Bresson: The Modern Century" questiona ainda o excesso de controlo editorial que as imagens fotográficas sofrem desde a segunda metade do século XX, indo ao encontro da dificuldade que o fotógrafo sentiu em relação às várias intervenções que as suas fotografias sofreram, algumas das quais não sabemos sequer se correspondem, de facto, à visão original que o autor tinha delas. A turbulência desses processos, assim como o desejo impulsivo de captar o próximo momento de vida, levaram-no a criar um sentimento de indiferença em relação ao modo como eram expostas as suas imagens nas plataformas de comunicação da altura e a concluir que o essencial da fotografia estava antes e no exacto momento em que a captava, sem artifícios posteriores.
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Galassi nota que Cartier-Bresson se encontrava "num extremo" do modo como os fotógrafos tentavam gerir a recepção do seu trabalho. A herança que instituições como o MoMa têm de gerir torna-se, deste modo, na verdadeira pós-produção das suas imagens. "Ele deu-nos a responsabilidade de montar o seu trabalho. As suas imagens são tão ricas que irão surgir ao longo do tempo através de maneiras de ver diferentes." Diferenças que Cartier-Bresson nos mostrou através de um olhar respeitoso da cultura e da vida em todas as suas formas e feitios, e de valores universais como o tempo, a tolerância e a compreensão da matéria humana. De todas as épocas, esta é aquela em que podemos escolher devolver a ética desses valores às imagens.
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 VER NESTE BLOG:
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HENRI CARTIER BRESSON EL FOTOGRAFO

Henri Cartier Bresson

Fotos de Henri Cartier-Bresson

Brasil - Exposição traz obra do fotógrafo Cartier-Bresson

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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Em abertura, sul-africanos faturam pintando rostos e tirando fotos


11 de junho de 2010 08h47 atualizado às 09h41

  Foto: Terra
Rostos pintados são comuns na entrada do Soccer City, em Johannesburgo
Foto: Terra


Celso Paiva
Direto de Johannesburgo
Com um número esperado de 84 mil torcedores para a abertura e o primeiro jogo da Copa do Mundo, alguns trabalhadores sul-africanos tentam lucrar como podem no Soccer City, horas antes da partida. Em uma das entradas principais de público, era possível ver vários comerciantes vendendo todo o tipo de produto. 
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Um dos vendedores lucrava com a venda de fotos instantâneas. Com uma câmera fotográfica digital pequena em uma mão e uma impressora portátil de imagens na outra, ele fazia imagens como se fossem cartões postais da frente do Soccer City, para os torcedores levarem como lembrança. 
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A procura estava sendo consideravelmente alta, já que o fotógrafo amador cobrava apenas 20 rands (cerca de R$ 5) por cada imagem. "Vocês brasileiros não conheciam isso? Sempre faço isso aqui nos jogos na África do Sul. Vou levar essa ideia para o Brasil", brincou o comerciante. 
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Outro sul-africano também estava faturando bem alto com a sua arte de pintar os rostos dos torcedores que chegavam ao Soccer City. Com tintas das cores do México e África do Sul, ele não parava de fazer bandeiras nas faces dos fãs das duas equipes. 
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"Faturo um dinheiro e ainda faço minha arte, mostrando o orgulho das pessoas em apoiar a África do Sul e o México", afirmou o artista, que cobrava apenas 10 rands (cerca de R$ 2,50) para pintar um lado do rosto dos espectadores. 
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O que não se viu ao redor do estádio foram vendedores de vuvuzela e bandeiras, objetos que durante a Copa das Confederações, no ano passado, tinham alta procura da maioria do público. Apesar de não serem comercializados perto do Soccer City, as vuvuzelas puderam ser vistas com frequência na entrada da torcida. De todos os tamanhos e personalizadas com as bandeiras dos dois países, elas prometem fazer muito barulho durante o jogo de abertura da Copa de 2010. 
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http://esportes.terra.com.br/futebol/copa/2010/noticias/0,,OI4486507-EI14416,00-Em+abertura+sulafricanos+faturam+pintando+rostos+e+tirando+fotos.html
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Moda e arte em exposição fotográfica


Abertura da exposição será nessa terça-feira,.
08/06/2010 - 11:04 - Infonet.-

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O Espaço Cultural Yázigi recebe nesta terça-feira, 8 de junho, às 20h, a abertura da exposição fotográfica do catálogo de moda da estilista Ana Badyall,e  fica em cartaz até o dia 30 deste mês.
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As imagens do ensaio Xique Xique no Sertão, foram captadas no alto sertão sergipano pelo fotógrafo Vinícius Fontes. A originalidade das peças e a beleza das fotografias impulsionaram a produção da mostra para deixar o público ver de perto as imagens em grande formato e algumas das peças da coleção inspirada nas bordadeiras ribeirinhas do São Francisco.
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quinta-feira, 10 de junho de 2010

Pedro Salvador (1947 - 2010)

Morreu ontem o nosso colega Pedro Salvador

Hoje
Nova perda para as Edições Novembro
Fotografia: Dombele Bernardo
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O “Jornal de Economia & Finanças”, semanário económico das Edições Novembro-EP, perdeu ontem o fotógrafo Pedro Salvador, no dia em que foi sepultado o jornalista José Cristóvão, do Jornal de Angola.
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Com 63 anos de idade, Pedro Salvador sofria de diabetes e estava internado há vários meses na Clínica Sagrada Esperança. Dos mais antigos profissionais do Jornal de Angola e da reportagem fotográfica de Angola depois da Independência, Pedro Salvador vem dos tempos em que se trabalhava com rolos e as fotos eram trabalhadas na película e impressas em papel no laboratório, processo de exigia grande capacidade e habilidade na técnica para que as imagens acompanhassem a saída a horas da edição.
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De repórter Pedro Salvador passou para chefe da Secção de Fotografia, cobrindo com grande profissionalismo, lealdade exemplar e muita coragem e dedicação grandes acontecimentos nacionais e mundiais ao lado de colegas como Pedro Juvelino, Paulino Damião, Rogério Tuty e João Gomes.
.  Natural do Soyo, nascido a 10 de Agosto de 1947, Pedro Salvador é filho de Salvador Congo e de Justina Cuchi. A sua carreira regista a passagem pela Foto “Kuaba”, como estagiário e fotógrafo de estúdio e impressor fotográfico.
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Também retratista e paisagista, Pedro Salvador teve várias participações em concursos internacionais de fotografia. Foi vencedor do primeiro concurso internacional promovido pela União das Cidades Capitais Luso-Afro-Americano-Asiáticas (UCCLA) em 1995, e dois anos depois foi o segundo classificado no concurso da UCCLA. Neste mesmo ano obteve uma menção Honrosa na II Bienal de Línguas e Culturas, organizado em Maputo, e venceu, em 2000, o concurso de Instantâneos de Rua, organizado pela Escola de Markenting e pela Foto Ngufo, em Luanda.
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Em Fevereiro deste ano, o repórter apresentou uma exposição sobre o Memorial a Mandume. A exposição, sob o título “Reviver Mandume”, esteve patente na União dos Artistas Plásticos (UNAP), e serviu de homenagem à figura do histórico dos Cuanhamas. À Direcção do “Jornal de Economia & Finanças” e à família enlutada, A Direcção e o colectivo de jornalistas do Jornal de Angola apresentam as suas mais sentidas condolências pelo falecimento daquele que era acima de tudo um grande homem e companheiro.

Mensagem de condolências

Em mensagem de condolências assinada por Carolina Cerqueira, o Ministério da Comunicação Social salientar que Pedro Salvador foi um dos mais prestigiados repórteres fotográficos do Jornal de Angola e do “Jornal de Economia & Finanças” e do país de uma maneira geral, ao longo das últimas três décadas.
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A ministra da Comunicação Social destaca que durante esse período Pedro Salvador “desempenhou com grande profissionalismo e dedicação a sua função, cumprindo sempre com zelo todas as tarefas que lhe foram atribuídas” e o seu “desaparecimento prematuro deixa um grande vazio, não só no seio da Comunicação Social como nos círculos familiar, de colegas e amigos” 
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Carolina Cerqueira enderça à família enlutada, Direcção e colectivo de trabalhadores do Jornal de Angola e do “Jornal de Economia & Finanças” o mais profundo sentimento de pesar.


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4-02-2010 4:13 - Angola Press
Arte
Fotógrafo Pedro Salvador expõe "Reviver Rei Mandume"
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Luanda - Uma exposição fotográfica denominada “Reviver Mandume”, da autoria do repórter fotográfico Pedro Salvador, vai ser inaugurada sexta-feira, dia 5, no Salão Internacional de Exposições da União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP), em Luanda.
A mostra, que vai levar ao conhecimento do público dezenas de fotografias sobre a vida do Rei Mandume, visa saudar mais uma aniversário de Mandume ya Ndemufayo, que se comemora no próximo sábado, mas também dar força ao projecto do Ministério da Cultura de valorização das figuras históricas angolanas.
No catálogo da exposição, o jornalista Filipe Lombolene, director da Rádio Ngola Yetu, escreve que Mandume ya Ndemufayo nasceu num frondoso embondeiro que ainda hoje existe, no Eumbo de seu pai, na epata elombe (casa da primeira mulher) de sua mãe em 1892 (data hipotética) em Embulunganga, perto de Ondjiva. É filho de Ndemufayo e de Ndapona.
“Ainda muito jovem sucedeu, em 1911, ao seu tio materno, o Rei Nande, no exercício do Poder. O monumento em homenagem ao Rei Mandume ya Ndemufayo foi edificado em Oihole, município de Onamakunde, onde se encontra sepultado o Rei”, lê-se no catálogo.
A exposição, que ficara patente na UNAP por 15 dias, tem o patrocínio da Flo Tek e o apoio do Jornal de Angola.
Fotógrafo das Edições Novembro, Pedro Salvador, 62 anos, natural de Quivemba-Zinga, município do Soyo, província do Zaire, é um retratista que encontra a sua consagração no quotidiano boémio. Teve encontros fortuitos com a realizada Cuanhama, assim como com as realidades do grande guerreiro da tribo Ambó, que foi Rei Mandume.
Pedro Salvador já realizou algumas exposições fotográficas em Luanda. A primeira foi em 1995, com o tema “Dia-a-Dia da Criança”. Seguiram-se depois as Exposições Minas anti-pessoais” (1997) e “Alusivo ao Dia Internacional da Criança” (2005).
Foi vencedor do primeiro concurso internacional promovido pela União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiático (UCCLA) em 1995; obteve o segundo lugar do segundo concurso da UCCLA, em 1997; obteve uma menção Honrosa na 2ª Bienal de Línguas e Culturas, organizado em Maputo, em 1997, e venceu o concurso de Instantâneos de Rua, organizado pela Escola de Markenting e Foto Ngufo, em 2000.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Amália Rodrigues - Trova do Vento que passa



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correligionariou 4 de Abril de 2008 — A los migrantes, exiliados, desterrados y expatriados.

Trova do vento que passa


Música: Antônio Portugal
Letra: Manuel Alegre
1963

Pergunto ao vento que passa
Notícias do meu país
E o vento cala a desgraça
O vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
Tanto sonho à flor das águas
E os rios não me sossegam
Levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
Ai rios do meu país
Minha pátria à flor das águas
Para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
Pede notícias e diz
Ao trevo de quatro folhas
Que morro por meu país.
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Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio — é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Estarnha Forma de Vida - Caetano Veloso e Amália Rodrigues



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ttroppus 17 de Janeiro de 2009 - LISBOA EU AMO-TE ("Estranha forma de vida" - Caetano Veloso - Amàlia Rodrigues
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Letra: Amália Rodrigues
Música: Alfredo Marceneiro

Estranha forma de vida

Foi por vontade de Deus
que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
que é toda a minha saudade.
Foi por vontade de Deus.

Que estranha forma de vida
tem este meu coração:
vives de vida perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.

Coração independente,
coração que não comando:
vives perdido entre a gente,
teimosamente sangrando,
coração independente.

Eu não te acompanho mais:
para, deixa de bater.
Se não sabes aonde vais,
porque teimas em correr,
eu não te acompanho mais

Se não sabes onde vais:
para, deixa de bater,
eu não te acompanho mais. 
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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Lewis Hine - vida e obra




















































Lewis Hine

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

"Há trabalhos que beneficiam crianças e há trabalhos que trazem benefícios apenas aos empregadores. O objetivo de empregar crianças não é treiná-las, mas tirar altos lucros de seu trabalho." Lewis Hine 
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Lewis Hine lecionava em Nova York. Não se conformava com o trabalho infantil, sendo assim, deixou giz e quadro-negro de lado e virou detetive. Trocou a cidade grande pelo interior do país para fotografar jovens (crianças e adolescentes) trabalhando em condições grotescas por muito pouco abono.
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Lewis Hine usava de sua esperteza para invadir fábricas de forma sutil. Para poder fotografar, inventava uma desculpa para entrevistar as crianças. Escondia em um dos bolsos a câmera e fingia tomar notas com um bloquinho. Suas fotos não admitiam artifício ou trapaça alguma. O processo era natural e o resultado deveria representar fielmente a realidade que havia visto. Os dados estatísticos obtidos e exposições fotográficas foram usados como armas para sensibilizar a opinião pública norte-americana.
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Lewis Hine é tido como um dos mestres da fotografia americana. O reconhecimento veio muito tempo depois de sua morte. Assim como as crianças que fotografou, Hine morreu sem reconhecimento.

Biografia

Lewis Wickes Hine, sociólogo Norte-Americano, nasceu em Oshkosh, Wisconsin, no dia 26 de Setembro de 1874. Estudou Sociologia em Chicago e Nova York (1900-07) antes de achar trabalho na Escola de Cultura Ética (Ethical Culture School). Hine, que comprou sua primeira câmera em 1903, aplicou suas fotografias em seu ensino e estabeleceu o que ficou conhecido como Fotografia Documental. Dedicou-se à fotografia em 1905 a fim de divulgar a miséria dos imigrantes europeus. Em 1908, continuou seus estudos sociológicos com fotografias de trabalhadores metalúrgicos de Pittsburg. Hine expôs à opinião pública as péssimas condições de trabalho, campanha que teve como resultado a aprovação da lei de trabalho infantil.
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Hine também usava sua câmera pra capturar a pobreza que testemunhava em Nova York. Isso incluía um estudo fotográfico sobre os imigrantes de da Ilha de Ellis. “A emigração para os Estados Unidos ofereceu a alguns fotógrafos uma rara oportunidade de poder ver a terra da promissão e liberdade atraindo para si os famintos e desabrigados da Europa. Para Lewis Hine, [...], a oportunidade serviu pra mostrar como, na realidade, milhões de emigrantes terminaram vivendo marginalizados em cortiços superpovoados em Nova York, Chicago e Filadélfia, ganhando miseráveis salários, em empregos onde eram praticamente escravizados.” (Busselle, Michael. Tudo sobre fotografia. 11ª reimpressão da 1ª edição de 1979.Thomson Pioneira. Pg.167).
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Em 1908, Hine publicou “Charities and the Commons” (Caridades e os Comuns), uma coleção de fotografias de trabalhos abusivos nas construções de prédios. Hine esperava que pudesse usar essas fotografias para trazer uma reforma social.
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Como professor, Hine era especialmente um crítico no que dizia respeito às leis de trabalho infantil. Embora alguns estados tivessem decretado uma legislação para proteger jovens trabalhadores, não havia leis nacionais para lidar com esse problema. Em 1908 o Comitê Nacional do Trabalho Infantil contratou Hine como seu detetive e fotógrafo, onde trabalhou por oito anos. Isso resultou em dois livros no assunto, “Child Labour in the Carolinas” (1909) e “Day Laborers Before Their Time” (1909). Em 1909, publicou o primeiro artigo sobre crianças trabalhando em risco. Nessas fotografias, a essência da juventude perdida presente nas faces tristes e até raivosa de seus objetos. Algumas de suas imagens, como essa da garota olhando para fora da janela, estão entre as fotos mais famosas já tiradas.
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Hine viajou pelos Estados Unidos tirando fotos de crianças trabalhando nas fábricas. Em um período de um ano, ele cobriu mais de 19.300 km. Diferente dos fotógrafos que trabalharam pra Thomas Barnardo, médico e missionário americano que abrigava crianças de rua, Hine não tentou exagerar na pobreza desses jovens. As críticas a Hine diziam que as fotos dele não eram chocantes o bastante. Porém, Hine afirmou que as pessoas preferiam se juntar à campanha se achassem que as fotografias capturavam com clareza a realidade da situação.
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Os donos das fábricas às vezes não permitiam que Hine fotografasse e acusavam-no de investigar e expor suas fotos. Pra ter acesso, Hine escondia sua câmera e fingia ser um inspetor de incêndio. Assim, capturava fotos reveladoras sobre o verdadeiro funcionamento de tantas fábricas dispostas por todo o território dos Estados Unidos. Hine disse em uma audiência: "Talvez vocês estejam cansados de fotos de trabalho infantil. Bem, nós também estamos, mas nós propomos fazer vocês e o resto do país ficar tão enjoados desse trabalho que quando a hora (de lutar) chegar, o trabalho infantil será apenas registros do passado.” Em 1916, o Congresso passou uma legislação de proteção à criança. Como um resultado do Ato de Keating-Owen, restrições foram colocadas no emprego de crianças com idade igual ou abaixo de 14 anos em fábricas e lojas.
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Após o sucesso de sua campanha contra o trabalho infantil, Hine trabalhou para a Cruz Vermelha durante a Primeira Guerra. Isso o levou à Europa onde fotografou as condições de vida dos franceses e belgas, que sofriam com os impactos da Guerra.
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Nos anos 20, Hine apoiou uma campanha de estabelecimento de leis mais seguras para trabalhadores. Hine escreveu mais tarde: "Eu queria fazer algo positivo. Então disse a mim mesmo, ‘Por que não fotografar o trabalhador trabalhando? O homem no trabalho? Na época eles eram tão desprivilegiados quanto as crianças’”.
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Em 1930-31 registrou a contrução do Empire State Building que mais tarde foi publicado em um livro, “Men at Work” (Homens no trabalho) (1932). Nos anos 30 os jornais já veiculavam fotografias e havia o interesse crescente por temas sociais. Após isso, a Cruz Vermelha mandou que fotografasse as consequências da seca em Arkansas e Kentucky. Ele foi também contratado pelo Tennessee Valley Authority (Autoridade do Vale do Tenessee) (TVA) pra registrar o prédio das represas.
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Hine tinha dificuldade pra ganhar dinheiro a partir de suas fotografias. Em Janeiro de 1940, perdeu sua casa após deixar de pagar o “Home Owners Loan Corporation” (Corporação de Empréstimos pra Proprietários de Casas). Lewis Wickes Hine morreu extremamente pobre 11 meses depois, no dia 3 de Novembro de 1940.
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Mesmo que fosse tão comum haver tanta injustiça social, mesmo que a maioria de pessoas estivessem acostumadas com esses problemas, e mesmo que até os próprios operários estivessem à vontade em tal situação, dado o contexto, o fotógrafo tinha a intenção de fazer uma denúncia social. Caso a foto seja do próprio Lewis Hine, essa intenção tornava-se explícita, principalmente sabendo que Hine dedicou sua vida às causas sociais por quais se sensibilizava.

Lewis Hine e a Fotografia

Hine passou grande parte da sua vida registrando cenas que para a sociedade atual seriam inaceitáveis. O contexto daquela época (anos 10, 20) carregava consigo uma série de injustiças, especialmente no que dizia respeito aos imigrantes e às crianças. Trabalhavam em condições terríveis e não eram bem recompensados, e visto por Hine isso deveria mudar de uma vez por todas.
Suas fotos passavam grandes significados. Ele capturava expressões nos rostos dos trabalhadores que traduziam a realidade daquelas pessoas de maneira transparente. Dizia: “Se eu pudesse contar uma história com palavras, não precisaria andar com uma câmara”.
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Fazia uso de lentes normais, pelo seu pequeno porte, pra que não chamasse atenção, especialmente quando fotografava vários meninos e meninas juntos. Os planos variavam entre plano aberto, quando desejava contextualizar seus objetos de fotografia, plano médio, para fotos em conjunto enfocando os rostos de seus objetos, e plano próximo, para fotos individuais.
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A maioria de suas fotos era frontal, uma vez que seu grande objetivo era capturar a expressão nos rostos dos trabalhadores, mas também usava ângulos diferentes pra criar uma perspectiva mais interessante (como mostrar a máquina e assim deixar claro qual era a função de certa pessoa). Ao fotografar, achava importante estar sempre no nível de quem fotografava (percebe-se que há grande simetria, nunca há chão demais nem teto demais, só quando necessário para a composição, e seus “modelos” eram centralizados com precisão).
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Pelo que podemos perceber em seu trabalho, não havia manipulação, até porque essa era uma de suas crenças (também uma regra). Para ele, a imagem só tinha credibilidade quando não havia sequer um tipo de manipulação, seja na cor, no contraste, ou o que fosse. Ao referir-se sobre suas fotografia usava a palavra “crua”, que é auto-explicativa.
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Ao compor a foto, Hine era muito cuidadoso. Apesar da vontade de ser discreto, enquadrava as máquinas de maneira sutil, para que mesmo quando desfocadas (pois o foco estaria sempre nos trabalhadores) as máquinas parecessem nítidas e descrevessem o lugar onde sua câmera, ou melhor, lentes, congelavam com sentimento de justiça seu objeto de estudo e trabalho.
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Durante sua existência, caminhou por grande parte dos Estados Unidos da América fotografando pessoas, e o fazia por elas, para denunciar algo que o incomodava de maneira tal que dedicou sua vida a isso. Suas fotos contribuíram para que leis de proteção aos jovens fossem criadas, e que houvesse melhoria nas condições de trabalho para o resto dos cidadãos (os que também viviam em um regime de “semi-escravidão”).
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A nobreza de Hine garantiu que, naquele país que viria futuramente ser uma potência mundial, crianças não fossem mais exploradas em favor do lucro, nem imigrantes trabalhassem por menos e em condições perigosas, e assim essas injustiças passassem a ser apenas fotografias de uma história americana, e exemplo para o resto do mundo.

Bibliografia
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- Busselle, Michael. Tudo sobre fotografia. 11ª reimpressão da 1ª edição de 1979.Thomson Pioneira. Pg.167.
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- Fotografias de Lewis Hine:
- Fotografia de Trabalho Infantil:
- Biografia:
- Fotografias de Lewis Hine:
- Biografia:

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